A Faculdade Fluminense de Filosofia foi fundada de forma pioneira, em 8 de dezembro de 1946, como uma cooperativa particular composta por um grupo de professores imbuídos pelo ideal de resolver o problema da falta de professores qualificados para ministrarem aulas no estado; também visando à criação de uma Universidade do Estado do Rio de Janeiro, já que, à época, a existência de uma Faculdade de Filosofia era condição prévia para a constituição de uma universidade1. O seu primeiro dirigente foi o advogado, farmacêutico e professor catedrático de Odontologia, Durval de Almeida Baptista Pereira, que dirigiu a faculdade durante a maior parte de sua existência2.
Seu reconhecimento ocorreu através do decreto-lei federal 3.064 de 8 de janeiro de 1947, concedendo-lhe alguns favores para seu funcionamento, como as instalações do Liceu Nilo Peçanha para o início de suas atividades. Em 24 de abril de 1947, o Conselho Nacional de Educação, autorizou o funcionamento dos seus primeiros cursos3. A aula inaugural foi proferida pelo professor Bernardo Beckeuser4 em 24 de maio daquele mesmo ano, nas dependências do prédio que abrigava o Instituto de Educação e o Liceu Nilo Peçanha, localizado na Avenida Amaral Peixoto5.
Durante os primeiros 14 anos, a faculdade enfrentou sérias dificuldades tendo em vista os problemas financeiros6. Na verdade, a cooperativa só logrou êxito devido ao empenho de seus professores e estudantes e ao apoio da intelectualidade do meio universitário fluminense, que juntou esforços para reunir o maior número de contribuintes visando a que a entidade “saísse do papel”, assim como efetivou negociações com os governos federal e estadual, para a assinatura de convênios. Isso permitiu que a instituição resistisse aos problemas financeiros e seguisse em frente, expandindo-se com a criação de novos cursos e obtendo o reconhecimento oficial deles na década de 1950. Em troca desse apoio, a faculdade oferecia dez vagas gratuitas, destinadas aos estudantes do magistério7.
O curso de Ciências Sociais foi reconhecido através do decreto federal 28.680 de 26-09-1950. Em 1951, foram reconhecidos os cursos de Letras Clássicas, Letras Neolatinas, Pedagogia, História e Geografia, através do decreto Federal 29.362 de 14-03-1951, e por fim, os cursos de Matemática, Letras Anglo-Germânicas e Didática8, foram reconhecidos em 1954, pelo decreto federal 35.628 de 8 de junho.
O ano de 1953 foi bastante profícuo para a Faculdade Fluminense de Filosofia. O Conselho da faculdade aprovou o curso de Estudos Fluminenses, com o objetivo de estudar e entender os problemas socioestruturais do estado, investindo fortemente na pesquisa científica na área de ciências humanas. O curso estava voltado não só para os acadêmicos como para os interessados em geral, com aulas ministradas por profissionais de cada área e pesquisas que envolviam assuntos como Geografia, História, Economia, Sociologia e Política Fluminense9. Nesse mesmo ano, os jornais registravam a criação do Instituto de Pesquisas Científicas da faculdade, montado com um recurso financeiro inicial de 400 mil cruzeiros, oferecido pelo Conselho Nacional de Pesquisas10. Ainda em 1953, a faculdade fundou o Centro de Estudos Antropológicos11, no sentido de proporcionar seminários, atividades de campo e atividades culturais para estudantes e professores. Os professores Marcos Almir Madeira e Edison Rodrigues Chaves destacavam-se nessas atividades, mas cabe também citar a ativa participação dos professores J. Alves Garcia, Osvaldo Domingues, Aydil Carvalho e Hans L. Lippmann12, no referido centro. Em 1955, registra-se a criação do Centro de Estudos Matemáticos.
Durante a década de 1950, as notícias nos jornais sobre a faculdade eram uma constante, seja pela criação de seus novos cursos ou pela participação do time das alunas no campeonato entre as faculdades, consagrando-se campeã inclusive sobre a Escola Nacional de Educação Física, em 195513. Dentre as notícias, destacamos a reportagem publicada na edição de 19 de dezembro de 1956, dessa vez pelo O Fluminense, informando que o primeiro deficiente visual formado em curso superior no país, Edson Ribeiro de Lemos14, era estudante da Faculdade de Filosofia Fluminense15. Em 1958, por iniciativa do professor Hans Ludwig Lipmann, ocorreu a organização do primeiro curso de Orientação Educacional voltado para a pós-graduação, considerado uma grande inovação, que seria regulamentada pela lei 4.024 de 21 de dezembro de 1961, como curso de pós-graduação.
Entre 1947 e abril de 1952, a FFF ocupou as dependências do Liceu Nilo Peçanha, seguindo para o Grupo Escolar Getúlio Vargas, na Travessa Manoel Continentino, onde funcionou durante oito anos16. Em 1960, a sua sede foi transferida para o prédio da Escola Aurelino Leal, na Rua Presidente Pedreira, onde ficou até maio de 1966, quando foi inaugurada a sua sede localizada na Rua Doutor Celestino, 8717.

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Notas

1 Ata da criação da Sociedade Cooperativa Mantenedora da Faculdade Fluminense de Filosofia. In: PEREIRA, Durval de Almeida Baptista. Contribuição para a história da UFF: a luta para sua criação e os fatos que geraram as crises dos primeiros anos de existência 1947-1966. Niterói: UFF, Imprensa Universitária, CEUFF, 1966. p. 76.
2 PEREIRA, 1966, p. 76.
3 O decreto nº 22.999, de 24 de abril de 1947 do MEC autorizou o funcionamento dos cursos de Letras Clássicas, Neolatinas, História, Geografia e Pedagogia. No entanto, o reconhecimento oficial por parte do Ministério da Educação e Cultura só ocorreu gradativamente nos anos seguintes.
4 Autor de livros sobre Niterói, dentre os quais, Minha Terra e Minha Vida: (Niterói há um século), 2. ed. Niterói: Niterói Livros,1994.
5 QUEM somos. Histórico da Escola Normal de Niterói. [2012]. Disponível em: <http://www.infoiepic.xpg.com.br/historia.htm>;. Acesso em: 2 maio 2013.
6 SILVA, Francisco. Da Faculdade de Filosofia à de Educação.Revista Faculdade de Educação, [S.l.], ano 2, n.2, maio 1972.
7 Em 1949 foram contempladas estudantes de Niterói e São Gonçalo. Mas as vagas eram pleiteadas pelos outros 54 municípios do estado. (Cf. SANTOS, Capitulino. Dentre 56 municípios, apenas dois foram contemplados. Os membros do magistério pagam o pato. O Diário do Povo. 9 jan.1949).
8 PEREIRA, 1966, p. 24.
9 SAAD, Michel Salim. Fundado na FFF- Centro de Estudos Antropológicos. O Estado, 1953.
10 Informe sobre a Faculdade Fluminense de Filosofia. O Estado, 1953.
11 SAAD, Michel Salim. O Estado entre os acadêmicos. O Estado, 30 out.1953.
12 SAAD, Michel Salim. Informe sobre a FFF. O Estado, 1953.
13 Informe sobre a Faculdade Fluminense de Filosofia. O Estado, 1955.
14 Em 1981 Edson Ribeiro de Lemos tornou-se doutor em História pelo Programa de Pós-graduação em História (PPGH-UFF), conforme noticiou o Jornal do Brasil em 26 nov. 198115 O primeiro cego formado em curso superior no Brasil - Aluno da Faculdade Fluminense de Filosofia. O Fluminense, 19 dez. 1956.
16 PEREIRA, 1966, p. 78.
17 PEREIRA, 1966, p. 84.

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